A Avenida Paulista é superestimada?

9 de dezembro de 2025

“É simplesmente a construção mais horrorosa que um dia já fizeram na avenida Paulista”, escreveu Douglas Nascimento em sua coluna na Folha sobre o novo prédio do MASP.

Não vou me arriscar aqui a defender ou criticar o novo edifício, mas uma coisa eu posso garantir a vocês: ele está beeeeem longe de ser o mais feio da mais famosa avenida paulistana. Se não necessariamente por seus eventuais predicados, com certeza porque a concorrência é enorme: prédio feio, afinal, é o que não falta por ali.

Como acontece por toda a cidade, a Avenida Paulista também é uma verdadeira colcha de retalhos de construções de diferentes épocas e estilos que pouco ou nada conversam entre si.

Há por ali desde casarões construídos ainda nas primeiras décadas do século 20, como a Casa das Rosas (projetada pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo), até prédios de escritórios espelhados erguidos na última década.

Há verdadeiros ícones arquitetônicos, como o próprio prédio do MASP (projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi) e o Conjunto Nacional (do arquiteto David Libeskind). Muitos dos edifícios da Paulista, porém, são absolutamente genéricos, recuados e sem vida no térreo – muito mais feios, na minha opinião, do que o novo prédio do MASP.

Há na avenida praças, como aquela ao lado do Shopping Cidade de São Paulo, e até parques, como o Trianon, que concentram verde e oferecem mobiliário urbano para alguns minutos de descanso e contemplação. Na Paulista como um todo, porém, parece faltar verde, árvores e praticamente não há bancos para se sentar.

Há locais muito atraentes por ali, com vista para a avenida, como o Blue Note, o tradicional Riviera e o Bistrô do Reserva Cultural, que, ligeiramente abaixo do nível da rua, oferece um enquadramento bastante singular dos passos que passam apressados. Apesar de estar sempre cheia de gente passando, porém, parece haver relativamente poucas vitrines interessantes e mesas charmosas nas calçadas.

Tudo para dizer que, em termos arquitetônicos e urbanísticos, a Avenida Paulista, o mais famoso cartão postal da cidade, deixa muito a desejar. Falta harmonia, sobram prédios feios; falta verde, sobra cinza; em um lugar com tanta gente caminhando, faltam bancos e os muitos térreos vazios são verdadeiros desperdícios de espaço.

Ainda assim, a avenida é um dos lugares mais visitados e admirados de São Paulo. Trata-se da área mais alta do centro expandido da cidade. Historicamente, ela se consolidou como um local de grandes manifestações. O acesso é fácil, já que é passagem para muitas linhas de ônibus, conta com ciclovia e três estações da Linha 2-Verde do Metrô. As calçadas são largas e regulares (algo raro na cidade), favorecendo o caminhar.

E, ainda que a paisagem urbana nem sempre seja lá das mais atraentes, o que não faltam por ali são atrativos: além de muitas lojas, bares, restaurantes, cinemas, teatros e do próprio MASP, ela conta com diversos centros culturais, como o IMS, o Itaú Cultural, o SESC e a Japan House.

Embora os prédios sejam, em sua maioria, de uso comercial, há muitas moradias – principalmente nos arredores, mas também na própria avenida. Grande parte dos edifícios funcionam apenas em horário comercial, mas há também faculdades, universidades, hotéis, hospital e maternidade, garantindo fluxo de pessoas ao longo de todo o dia.

E, desde que ela se abriu para os pedestres aos domingos e feriados, tornou-se um dos espaços públicos mais vibrantes da cidade nesses dias, cheia de gente e atrações para todos os gostos.

Assim, a Avenida Paulista definitivamente faz jus ao posto de principal cartão postal de São Paulo. Afinal, é uma espécie de síntese da cidade em toda sua diversidade e contradições; e, apesar de seus muitos problemas urbanos e prédios horrorosos, tem características que realmente a tornam única e sempre estimulante.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Economista pela FEA-USP, mestre em economia pela EESP-FGV e tem mais de 20 anos de experiência na área de pesquisas e estudos econômicos. Mora em São Paulo e caminhar pela cidade é um de seus hobbies favoritos ([email protected]).
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