O momento em que vivemos desenha um contexto o qual tem demandado cada vez mais velocidade de resposta, seja para qual for a questão: suprir demandas habitacionais, atingir pautas sociais, econômicas, ecológicas e urbanas em geral. Tendo esses conceitos e contexto postos à mesa, segue o questionamento: como poderia o artefato arquitetônico — uma construção que a princípio deve ser estática e perene, pensada para durar um longo período, adaptar-se às demandas atuais e suas transformações?
A ponte Vecchio em Florença, na Itália, foi construída por volta do século 14, para ser o elo de conexão sobre o rio que separa a cidade. Com o tempo, os próprios moradores da cidade perceberam que a região central e a conformação espacial da ponte eram um ótimo local para comércio. A partir de tal percepção e com a permissão regulatória da cidade, foi sendo ali construído um conglomerado de “acoplados” arquitetônicos junto à ponte, onde comércios, serviços e moradias foram se instalando.
Embora a transformação funcional e socioespacial da ponte Vecchio tenha sido espontânea — disparada fundamentalmente por sua vocação locacional —, ela inspira ações conscientes e projetadas a lidarem com a possibilidade de uma possível nova acomodação natural que atenda às dinâmicas e as demandas dos usuários.
Os projetos Vila Verde Housing, Quinta Monroy e Monterrey, do escritório Chileno ELEMENTAL, dirigido por Alejandro Aravena, vencedor do Pritzker em 2016, segue esta ideia. Para isso, parte de duas premissas fundamentais. A primeira considera a projeção de aumento da população até 2050, e a segunda reconhece que quanto mais próximo do centro é a residência, maior é o acesso a oportunidades e que quanto mais próximo a oportunidades, mais caro é o m². Como viabilizar moradia popular mais próximas a áreas centrais, considerando a alta demanda populacional e suas restrições orçamentárias? A resposta dada foi primar pela localização, possibilitando o acesso a áreas centrais e minimizar o custo da construção, optando por entregar apenas as infraestruturas essenciais para o dia a dia da habitação e deixando espaço para o crescimento da família, a ser gerida pela auto-construção do seu espaço.
Gerhard Schmitt descreve que na Ponte Vecchio a demanda por comércio e moradia era visível por quem ali vivia, mas foi com a relação de diálogo entre a cidade e os cidadãos que permitiu que as pessoas respondessem de maneira autônoma na decisão, levando-as a escolher construir esses acoplamentos arquitetônicos junto a ponte. Nos projetos do ELEMENTAL, uma relação parecida. O poder público construiu a “metade suficiente” para habitar e permitiu, de maneira controlada, o aumento das moradias. Os moradores, por sua vez, entendem seu papel com liberdade e autonomia na decisão, podendo expandir sua casa conforme suas condições financeiras e demandas pessoais.
Algo responsivo, segundo o dicionário é aquilo “Que reage ou responde de forma esperada ou apropriada em determinada situação”. Esta interpretação pode ser ampliada. A psicologia descreve que a responsividade é um conceito de comunicação do ser com o exterior, onde o indivíduo ou objeto atinge uma capacidade de autonomia e auto afirmação que permite a resposta mais adequada ao contexto no qual está inserido. A ponte Vecchio e os projetos do Elemental são exemplos que materializam em arquitetura a autonomia e a responsabilidade dos seres urbanos.
Texto de autoria de Caio Risso.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.