“Nós escolhemos ir para a Lua. Nós escolhemos ir para a Lua nesta década e fazer outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis”; quando John F. Kennedy proferiu esse discurso em 1962, vaticinou o protagonismo tecnológico dos EUA pelas décadas e décadas seguintes. Ao colocar o sarrafo no espaço sideral, o país olhou para um desafio aparentemente impossível que aos poucos se tornou viável, graças à muita pesquisa científica, inovações tecnológicas, empenho criativo e rigor intelectual. E trabalho. Muito trabalho.
A Amazônia é tratada como incomensurável floresta tropical, mas abriga importantes centros urbanos com aspectos sócio-ambientais vergonhosos, onde vive mais de 77% da população. A preservação da floresta desperta preocupação do mundo inteiro, mobilizando os melhores cérebros, tecnologias e oferta de recursos para o Brasil.
Contudo, não se olha para a condição urbana como estratégica. Saneamento, mobilidade, habitação, apesar de terem os piores números nacionais, não sensibilizam do mesmo modo como o desmatamento ou a mineração ilegal.
Fazem formulação de políticas públicas sobre o futuro da Amazônia ignorando o potencial do desenvolvimento urbano pois é uma mentalidade viciada em financiamentos externos. Pensam a região com olhos internacionais e sem ouvir o grande contingente que habita as cidades. Há um perigoso déficit de imaginação em curso se continuarmos a ignorar o solo urbano.
Sete entre dez dos municípios maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil são amazônicos, de acordo com o Observatório do Clima.
Os dados sociais têm a escala da região em aspectos negativos. Pegue a lista do IDH-M no site da PNUD da ONU e comece pelo final, lá, na lanterninha do Índice de Desenvolvimento Humano estão os municípios da Amazônia Legal. Não há debate público sobre esse outro tipo de destruição.
É urgente um esforço inovador do governo federal, como o realizado durante a corrida espacial. A Amazônia deve ser encarada como a nossa “Lua”, e com uma Agência Nacional de Desenvolvimento Urbano, a nossa “NASA”, executaríamos a missão de estabelecer um plano ambicioso de implementação de uma utopia urbana ecológica, ajudando cidades e regiões, coordenando investimentos prioritários e fomentando o setor privado para este empenho.
Essas imagens foram geradas no Midjourney, um aplicativo AI para imagens. Apenas um exercício de criar futuros imaginativos para a Amazônia.
Por que a Embraer não desenvolve o melhor hidroavião do mundo? Pois as pistas de pouso já estão prontas, os rios. Que novo design náutico pode-se inventar? Árvores poderiam transmitir dados? Conseguiríamos cidades flutuantes, ou semi-alagáveis, similares a Afuá, no Marajó? Como aproximar as pessoas da imensa região sem ter que fazer estradas? A tele-educação funcionaria como hologramas ou gêmeos digitais? Haveria uma moda com estética Parintins? Conseguiríamos projetar uma manufatura industrial inspirada nos tipitis?
Seria possível vislumbrar outras realidades potentes?
Uma corrida por uma Amazônia sustentável inauguraria uma vanguarda tecnológica ambiental que nenhum outro país jamais tentou ou realizou. Mas se deixarmos que outros países formulem e resolvam nossos problemas, vamos perder nosso protagonismo.
Portanto, não é soberania, mas sabedoria. Não é medo de represálias internacionais, mas ousadia de empreender em um território que se almeja intocável, mas com cidades bem organizadas, inclusivas e prósperas. Estamos de fato pensando a Amazônia com toda força da nossa criatividade?
Uma Amazônia justa, ancestral e tecnológica, poderia deixar legados valiosos, de evolução do espírito humano com a natureza, revelando o melhor que há em nós. Não porque é fácil, mas porque é difícil.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.