A 26ª Coluna

21 de fevereiro de 2024

Um ano normalmente tem 31.536.000 segundos, 525.600 minutos, 8.700 horas, 365 dias, 52 semanas e 12 meses. 

E  esta é a  26ª coluna que escrevo ou, em outras palavras, com ela, completo um ano escrevendo quinzenalmente para o Caos Planejado. 

Lembro direitinho, em meados de 2022, quando o Anthony Ling me mandou um áudio contando seus planos do “projeto colunistas” para o site, cuja ideia era abrir espaço para profissionais escreverem a cada 15 dias de maneira mais dinâmica suas opiniões em diferentes temas do urbanismo. 

Fui convidado pelo Anthony e, por óbvio, aceitei fazer parte desse projeto. Vi como uma grande oportunidade para quebrar alguns paradigmas do que vem sendo o motivo de tantos estudos e pesquisas, além de ser a razão pela qual eu escolhi a profissão de arquiteto e urbanista: os edifícios em altura. 

Digo quebrar paradigmas porque, principalmente aqui onde vivo e moro, em Porto Alegre, ao longo do tempo, passou a se estabelecer alguns preconceitos em relação à tipologia que, de certa maneira, depois de algumas pesquisas, verifiquei que também existe por todo Brasil. E muito desse preconceito ocorre pelo modo que implementamos os edifícios altos em nossas cidades. 

Durante o ano, tentei abordar temas elogiando e criticando os edifícios altos e, quando houve críticas, procurei apresentar soluções de como as problemáticas poderiam ser resolvidas ou mitigadas. 

Críticas por críticas sobre os edifícios altos, sempre ocorreram e vão continuar acontecendo. Vejo como premissa, antes do julgamento negativo, ter a solução de como pode ser melhorado e não, simplesmente, barrando ou proibindo a tipologia como tantos fazem. 

A propósito, os arranha-céus são um dos tipos de edifícios mais recentes de nossos tempos. Tem apenas uns 130 anos… É muito pouco tempo de vida, ou seja, ainda vão ter muitos erros e acertos.

Digo “ainda” pois os edifícios altos vieram pra ficar, “bem” ou “mal”, eles estão aí para acompanhar a humanidade por muitas e muitas gerações. 

Essa semana vi o relatório anual do Council on Tall Buildings and Urban HabitatCTBUH e, mais uma vez, houve quebra de recorde na construção de edifícios altos. Foram 14% a mais edifícios em altura de 200 metros ou mais concluídos do que o ano anterior, 2022, e a perspectiva para 2024 é de ocorrerem mais recordes.

No Brasil, também acontece esse fenômeno. Nunca se construiu tantos edifícios altos no solo brasileiro como nos últimos anos, e a tendência é de continuar esse crescimento. A cada ano, mais e mais cidades ganham o seu “mais alto edifício”, mas esses, os mais altos, são exceções e há uma enormidade de edificações altas em construção que se expandem pelo território e mal sabemos como são ou serão. São essas que vão constituir as nossas cidades e por isso precisamos ter um olhar mais atento para humanizá-las. 

Pois, a edificação alta sempre trará mais impacto do que qualquer outra tipologia. O impacto pode ser positivo ou negativo, vai depender de como implementarmos e é nesse sentido que precisamos humanizar a implementação dela. 

Se estão aí para ficar, precisamos fazê-los pertencer ao local em que são construídos, desde o meio ambiente, a cultura, o contexto e o social. E é possível, sim. Temos uma pequena amostra do que já foi feito nas décadas de 1950 e 60. 

Por esse motivo, na minha tese de doutorado que está em andamento, deixei de olhar o objeto – único – do arranha-céu para olhar a sua implementação, pois percebi que não adianta uma arquitetura de excelência se a problemática está antes do primeiro risco no papel. Precisamos aprender como implementarmos melhor nas nossas cidades e venho, pouco a pouco, tentando demonstrar por aqui. Precisamos buscar edifícios altos mais humanos e responsivos às nossas cidades.

Nesse próximo ano de coluna, continuarei com a saga e espero trazer mais um pouco da que tem sido a pesquisa de minha vida: os edifícios altos.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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