O efeito borboleta da responsividade

16 de maio de 2023

O conceito de responsividade está atrelado ao protagonismo dos usuários, no sentido de que suas ações podem desenhar as dinâmicas espaciais, sociais e econômicas das cidades. No contexto no qual vivemos hoje, a tecnologia digital e informacional torna possível que ações responsivas ampliem sua escala e sejam capazes de produzir impactos enormes em um curto espaço de tempo. 

A responsividade se vale do que a filósofa e zoóloga Donna Haraway chamou de “saber situado”, ao valorizar o conhecimento tácito daqueles que entendem determinado problema por enfrentá-lo cotidianamente.

Ainda que Haraway tenha desenvolvido seus argumentos com base em estudos feministas, a ideia de dar importância “a quem está falando” é passível de ser aplicada em muitas situações. O tema da responsividade escancara a possibilidade de uma pró atividade das pessoas em resolverem seus próprios problemas, o que, na sociedade em rede, pode significar falar por muita gente. Quanto maior a empatia do indivíduo diante do problema a ser resolvido, maior impacto terá a solução desse problema. 

A Startup naPorta é um claro exemplo disso. Foi vivenciando a falta de acesso aos produtos comprados pela internet, que Sanderson Pajeú, juntamente com Katrine Scomparin, Leonardo Medeiros e Rodrigo Yanez, criou a naPorta, colocando as pessoas que vivem nas comunidades com acesso espacial restrito no mapa do e-commerce. Atualmente estão presentes em 16 comunidades no Rio de Janeiro, incluindo Rocinha e Vidigal, e 3 em São Paulo.

Fizeram isso por meio de pequenos centros de distribuição junto às comunidades, contratando pessoas que conhecem o território para fazer as entregas das compras online, movimentando também a economia local.

Além das restrições impostas pelas condições espaciais, essas pessoas não têm CEP e foi aí que a Startup deu o passo fundamental. Em uma parceria com a Google, mapearam e geolocalizaram as habitações da Favela dos Sonhos, possibilitando que a comunidade tenha algo que é básico a boa parte de nós: um endereço. Segundo Katrine, grande parte das 70 mil favelas que existem no Brasil têm códigos postais com restrições no CEP, sendo 34% apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A Favela dos Sonhos também terá internet sem fio gratuita graças a uma parceria da ONG Gerando Falcões com a fabricante de telecomunicações Huawei, com a operadora de fibra ótica VIP Telecom e com a integradora de tecnologia FiberX, como parte do Projeto Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida). Uma ação que irá beneficiar cerca de 200 famílias.

Ainda que o conceito de responsividade esteja atrelado à responsabilidade de cada cidadão, ele pode impactar em efeito borboleta, uma vez que as cidades são sistemas complexos, dinâmicos e adaptativos. NaPorta e Favela 3D são exemplos de ações responsivas que podem ganhar uma positiva escala transformadora em diversos sentidos, para muitas pessoas. A nosso favor temos a tecnologia, a empatia e as parcerias entre os múltiplos agentes que constituem a trama das cidades.

Coluna de autoria de Luciana Marson Fonseca.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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