Micro moradias precárias: uma realidade em ascensão nas favelas

24 de novembro de 2023

As moradias precárias com dimensões minúsculas estão cada vez mais presentes nas favelas brasileiras. Com estruturas improvisadas, são muitas vezes construídas com materiais recuperados, como madeira e plástico, sem fundações adequadas, integridade estrutural e comodidades essenciais.

No processo evolutivo das construções, muitas atualmente encontram-se em alvenaria e foram divididas em diferentes casas para abrigar parentes e/ou auxiliar na renda familiar com a venda do espaço.

O improviso busca cumprir uma necessidade básica: ter uma cobertura para sobreviver, para morar. O improviso não desenha um layout com as funções necessárias, afinal o conhecimento técnico não alcança a todos. 

O improviso limita-se a um piso, uma parede e um telhado, poucas aberturas, sem acesso à rede elétrica e hidráulica adequada, pouco ou nenhum mobiliário. O improviso acontece pela falta de recursos, porque muitas vezes a família precisa escolher entre o alimento e o reboco do “lar”.

Assim, chegamos à Casa do Tiquinho, localizada na favela do Jardim Colombo, zona oeste da cidade de São Paulo, uma das menores casas de alvenaria do Brasil. Com apenas 4m², a moradia encontrava-se sem banheiro, pia, geladeira e com uma estrutura de cama elevada e precária.

Tiquinho, 60 anos,  carinhosamente apelidado assim pelos moradores, mora no local há mais de 40 anos, passando por diferentes moradias em aluguel, a última com muito esforço conseguiu adquirir. 

Entretanto, há alguns anos sem recursos e sem emprego, não teve chances de realizar uma reforma. Viver nesta situação foi agravando sua saúde, gerando problemas respiratórios, de anemia, na coluna e consequentemente afetando sua autoestima.

Em 2023, aquela situação tomou outro rumo, após diversas avaliações no espaço por meio do Fazendolar – pilar do Instituto Fazendinhando, responsável por reformas em moradias precárias. 

Hoje, a casa possui áreas e elementos com funções básicas. Antes, porém, Francisco nem imaginava essa possibilidade no lugar em que mora. “Eu não tinha espaço para nada. Até para me movimentar tinha que ser calculado”, relata. 

Para obter o resultado, o processo foi dividido em duas etapas. O primeiro passo foi a construção do banheiro debaixo de uma escada que leva ao andar da casa vizinha. O ambiente  foi revestido por azulejos brancos e um piso cinza, com a incorporação de vaso sanitário, pia, chuveiro e um espelho largo, instalado conforme as características do espaço. 

Desde o início, a reforma foi feita a partir de materiais adquiridos de doações e, como a casa era muito pequena, ela precisava ser totalmente adaptada. A segunda etapa teve como objetivo elevar a cama do morador a partir do nivelamento do piso e da aplicação de uma estrutura de escada funcional com nichos de madeira para guardar utensílios básicos, roupas e como suporte para a nova geladeira.

Em cada etapa da obra, Tiquinho  auxiliou na reforma,  juntamente com pedreiros e mulheres capacitadas pelo projeto Fazendeiras. Ele ressalta a importância de ter um lugar para se higienizar, para dormir com mais aconchego e, até mesmo, para armazenar seus alimentos com mais comodidade.

Essa realidade é mais comum do que muitos imaginam.  Na favela do Jardim Colombo, por exemplo, cerca de 20%  das moradias variam de 4m² a 22m². A ausência de políticas públicas habitacionais efetivas leva ao aumento do número de moradores em situação de rua, à superlotação das unidades habitacionais existentes ou à obrigação de pessoas a viverem em condições precárias e inseguras.

Agradecimentos: SUM Engenharia, Caos Planejado, União Jardim Colombo, CASACOR,  RPN Cobogó, Kelly Farias, Fernanda Aidar e Rodrigo Faustino de Jesus. 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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