A importância das lideranças comunitárias no desenvolvimento territorial das cidades

16 de abril de 2023

No decorrer de décadas, descrevemos sobre as cidades sem ao menos mencionarmos o papel fundamental das lideranças comunitárias na construção coletiva de ações, soluções e iniciativas emergentes para o desenvolvimento territorial, educacional e social da nossa sociedade.

No Jardim Colombo, em São Paulo, pode-se considerar que o germe da participação popular surge em 1984, ano que marca um passo importante na história da comunidade com a fundação da União dos Moradores da Favela do Jardim Colombo, entidade sem fins lucrativos, criada para suprir a necessidade dos moradores de se manterem aglutinados em torno das causas comuns, principalmente o enfrentamento das carências de infraestrutura, e o acesso à saúde e à educação.

Neste período, no percurso inconstante e árido das relações institucionais, mediante a exiguidade de conquistas concretas, as lutas sociais crescem com a mobilização interna para a construção de equipamentos básicos, tais como: creche, padaria, sede administrativa da associação, edificações de cunho social e educacional, em sua maioria executada por mutirões e pelos próprios moradores. 

A decisão de institucionalizar a representação da comunidade foi vital no sentido de permitir a participação junto a instâncias da gestão municipal, possibilitando o acesso a programas e ações governamentais. Neste sentido, merecem destaque as iniciativas da comunidade organizada no Programa Bairro Legal (2000) e no Programa de Urbanização do Complexo de Favelas de Paraisópolis (2015).

O projeto está configurado para ser realizado em duas etapas, sendo a primeira relativa à consolidação do sistema viário oficial, à canalização do Córrego Itararé e à intervenção em áreas de risco. A segunda etapa aconteceria paulatinamente, de quadra em quadra, a partir de encaminhamentos relativos à regularização fundiária.

Com o projeto de urbanização aprovado desde 2011, sem nenhuma intervenção realizada pela prefeitura a não ser parte das remoções das moradias em risco que estavam em cima do córrego, após uma luta árdua e cansativa, em 2022 as obras enfim iniciam-se, criando novas perspectivas para o território, com a inserção futura de unidades habitacionais, comércio, parque linear, saneamento básico, infraestrutura urbana e equipamentos públicos.

Outro exemplo claro e perceptível de mobilização interna são as ações que aconteceram na UNAS – União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região, entidade sem fins lucrativos criada em 1978 enquanto comissão de moradores da favela de Heliópolis, maior favela de São Paulo, que lutava pelo direito à moradia e posse da terra.

Atualmente a instituição busca parcerias com o poder público, iniciativa privada e organizações sociais, garantindo o suporte à implementação de projetos, programas e serviços de forma abrangente nas áreas de educação, cultura, assistência social, esporte, saúde, trabalho, mulheres, juventude, LGBTQIAP+, moradia e movimentos de base, impactando cerca de 9 mil pessoas diretamente por mês, por meio de 55 projetos sociais.

Negligenciamos um passado de luta, de mãos que foram responsáveis por auxiliar na diminuição das desigualdades sociais, de mãos que em sua maioria não conseguiram concluir o Ensino Médio, mas se tornaram co-idealizadoras de um futuro mais digno e melhor! Somos frutos dessas memórias e para seguirmos avançando, nossas cidades não devem apagá-las.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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