A 2ª vida dos edifícios

3 de novembro de 2023

O Council on Tall Buildings and Urban Habitat – CTBUH é a maior organização mundial para profissionais e pesquisadores quando o assunto se trata de arranha-céus. Anualmente, o CTBUH realiza conferências em diversos pontos do mundo com profissionais acadêmicos e práticos para a discussão do futuro das edificações em altura. 

Neste ano, a conferência internacional do CTBUH foi realizada em Singapura e Kuala Lumpur, entre os dias 16 e 21 de outubro, com a temática “Humanizing High Density: People, Nature e the Urban Realm”. O intuito foi expor novos conceitos que estão sendo pesquisados e/ou postos em prática, envolvendo maneiras habitáveis de densidade em equilíbrio com espaços públicos e a natureza. Também, abrangendo o debate sobre a redução das emissões de carbono para mitigação das alterações climáticas e uma apropriação das novas edificações com as características ambientais e culturais onde forem construídas. 

O Diretor da Whitby Wood Mills, Shonn Mills, em uma das palestras do evento, lançou um questionamento provocador para o futuro dos arranha-céus: “com mais de 2.000 concluídas, menos de 2% das torres com mais 200m (de altura) foram demolidas… Deveríamos projetar edifícios para durar, indefinidamente?”

O sentido da pergunta de Shonn Mills é de que, se dificilmente um edifício alto será demolido, porque não se projetam edificações flexíveis aos usos para que possam adaptar-se, ao longo do tempo, às necessidades de cada época? Para tanto, a equipe da Whitby Wood Mills apresentou, na conferência “The Second Life of Towers”, um conceito de reutilização de materiais, readaptação de usos e renovação de edificações existentes em nossas cidades. 

Não obstante, o título de “melhor edifício alto do mundo” em 2023 foi para o Quay Quarter Tower, em Sidney, dos arquitetos dinamarqueses da 3XN. Este arranha-céu é, na verdade, uma “reciclagem” de uma edificação modernista dos anos de 1970. Ou seja, ao demolir parte do edifício existente no local, reciclou-se e reutilizou-se o material demolido, poupando 8 mil toneladas de carbono e, praticamente, duplicando a área útil presente até então. Com essa mudança, foi possível transformar os ultrapassados escritórios do século XX, atendendo a demanda contemporânea do trabalho. 

Podem ser traçados paralelos com os preceitos mencionados nos parágrafos anteriores em casos atuais que as grandes capitais brasileiras têm enfrentado. As prefeituras vêm adotando os programas “Re” (Reviver; Reabilitar; Requalificar; Revitalizar; Etc.) para dar novamente vida aos abandonados centros históricos. Um dos principais instrumentos para a tentativa de alcance dos objetivos são benefícios para a realização de retrofit nas degradadas edificações das regiões centrais. 

Porém, em muitos casos, o que acontece é que o custo elevadíssimo para essas “reformas” não atrai o desenvolvedor para o negócio. Sem contar que muitas vezes, também, as legislações, como as de incêndio e de acessibilidade, acabam por inviabilizar a operação devido tamanha necessidade de transformação do edifício para a adaptação das leis atuais. 

Então, já pensaram que benefício interessante seria aplicar o caso do Quay Quarter Tower? Digamos, o desenvolvedor que reciclar e reutilizar o material demolido do edifício existente poderá até duplicar a área construída existente como um acréscimo ao edifício. Tendo a acreditar que os incorporadores passariam a ver com bons olhos essa alternativa.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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