5 livros para entender e amar cidades
Não são muitos os livros que mostram o que é uma cidade, como ela funciona e, ainda, com uma linguagem cativante. Mas eles existem!
Luciano Braga compartilha a sua observação da transformação do ambiente urbano de Porto Alegre, relacionando às ideias de Jane Jacobs.
3 de março de 2015Faz uma semana que uma obra ficou pronta aqui em Porto Alegre. É o Binário da Praia de Belas, uma obra que inverteu o sentido de duas avenidas, transformando elas em avenidas de mão únicas. Não entendi muito bem o motivo quando vi a obra, até porque ultimamente não passo muito por ali. Mas daí lembrei do clássico livro da Jane Jacobs, “Morte e Vida das Grandes Cidades”, escrito em 1961, e entendi tudo.
No livro ela fala sobre o conceito de “erosão das cidades pelos automóveis”, que funciona basicamente assim: o congestionamento de carros gera um alargamento de rua, que por sua vez gera a transformação da rua em uma avenida, que gera uma avenida de mão única, que gera a sincronização de semáforos, que gera os viadutos — e por aí vai. Não lembro realmente se foi ela que criou esse conceito ou se foi outra pessoa, mas no livro está mapeada a exata ordem da transformação que os carros em demasia imprimem na mobilidade urbana da cidade.
Assim como o passo-a-passo de como uma cidade pode ser erodida pelos carros, Jane Jacobs também discorre por páginas e mais páginas sobre o quão prejudicial é essa abordagem para a vida de uma cidade. Isso porque, segundo ela (e eu concordo), quanto mais espaço se der aos carros na cidade, maior se tornará a necessidade do uso deles e, por consequência, de ainda mais espaço para carros. É um círculo vicioso já diagnosticado há mais de 50 anos, mas que infelizmente continua a acontecer nas nossas cidades.
A obra na Praia de Belas foi feita por causa do intenso trânsito que existia ali. Para tentar diminuir o congestionamento, a Prefeitura transformou as avenidas em vias de mão única, diminuindo assim os cruzamentos existentes nas duas ruas para uma maior fluidez ao trânsito. A real é que a obra não adiantará muita coisa, pois ela é um convite para que mais carros ganhem as ruas. Com mais carros nas ruas, só a inversão de sentido da avenida não será suficiente, sendo necessário no futuro que um viaduto seja construído ali. E por aí vai.
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Recife tem uma das exigências de vagas mínimas de garagem mais absurdas do mundo, ultrapassando cidades reconhecidamente obcecadas por carros como Houston e São Paulo.
Sua obra se tornou uma espécie de símbolo de urbanismo, uma referência usada por muitos de uma cidade organizada mas que, ao mesmo tempo, não perdeu seu romantismo.
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